Destruir e Reparar
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Desejo e Reparação, filme que estréia amanhã em sampa , adaptado do romance de Ian McEwan, abre o circuito de estréias de filmes "oscarizáveis" (festa ameaçada pela greve dos roteiristas).E é aí que o filme surpreende, na narrativa.
O filme todo é traduzido na visão de Briony garota aspirante a escritora na aristocracia britânica dos anos 30, que ao contar uma mentira, destrói toda a geração de sua família, principalmente a vida de sua irmã mais velha Cecília (Keira Knightley, madura) e Robbie (James McAvoy), filho da governanta e amante de Cecília, por quem Briony tem uma paixonite, ao interpretar maliciosamente a paixão dos dois.
A desgraça atravessa a Segunda Guerra Mundial e ultrapassa décadas, sempre com a tentativa de Briony de reparar seu erro.
Os diálogos do filme são incríveis (o roteiro é de Christopher Hampton, mesmo roteirista do genial Ligações Perigosas) como na sequência em que a prima de Briony chora desesperada com o divórcio dos pais, e Briony pergunta a ela se quer ouvir algo terrível.
Sorrindo, a prima confirma que sim.Como se dependesse da tragédia dos outros para superar a sua própria.
Quem também não erra é o diretor Jon Wright (do belo Orgulho e Preconceito) que cria uma visão relacionada ao "as aparências enganam" que é onde vive Briony, em seu próprio mundo de peças de teatro, fantasia que se difere da realidade às vezes mais simples do que ela interpreta; direção digna de Orson Welles.
Num final incrível e que torna o filme um dos melhores do ano passado, com a interpretação inacreditável de Vanessa Redgrave, questiona-se se a arte pode reparar uma tragédia ao criar um novo final, dessa vez uma reparação fantasiosa.
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