Madonna - Doce e Pegajosa
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por Givago Oliveira
Foi se o tempo em que Madonna preparava grandes surpresas em seus espetáculos. Desde 2001 em sua volta aos palcos (ela ficou 8 anos sem cair na estrada, sua última tour foi The Girlie Show - 1993) com a germinal “Drowned World Tour”, a cantora fincou um estilo próprio de se apresentar. Numa Média de 4 blocos temáticos, divididos em intervalos com clipes produzidos especialmente para cada tour, com releituras de músicas menos conhecidas e nem por isso menos importantes em sua carreira.
Outros elementos que sempre se repetem é o flerte ora com a latinidade, ora com o étnico, há sempre o momento Rock Fake com Madonna à frente (não) tocando guitarra, recurso claro para ganhar fôlego. Afinal, tornou-se uma obsessão da cantora, nos mostrar como seu corpo robótico é forte e flexível e suas coreografias simétricas estão quase à prova de erros ou quedas.
Antes, o show era Madonna, cada olhar estava apontado para ela. Apesar dos bailarinos estarem mais evidentes, eles tinham o papel de antagonizar ou serem coadjuvantes de suas epopéias musicais. Hoje, o palco é mais tecnológico e imagético, seus bailarinos são uma extensão do corpo da cantora, tudo é uma coisa só trabalhando para impressionar a audiência.
Bloco Pimp
O show inicia-se com Madonna sentada num trono em forma de M, nas laterais dois “emes” cravejados de brilhantes fazem do palco um Gueto-Star-floor de luxo. É um convite para conhecermos esse mundo madonnico miscigenado. “Candy Shop” alegra os presentes e Madonna é recebida como se auto-proclama: uma Rainha. Sua postura sentada no trono e sorrindo quase falsamente, parece ter a seguinte legenda: - Who’s the queen? A música segue.
Seus súditos deliram com a cafetina em um carrão “antique”, que surge no palco. “Beat goes on” leva todos a uma Nova York, com suingue sonoro dos sucessos da Motown, pastiche é claro, mas não menos charmoso e divertido a seu modo. Numa versão Rock Star uma raivosa Madonna canta “Human Nature”, no telão uma Britney mais conceitual, fica cansada, agoniada e exausta, por estar presa num elevador. A metáfora de que a fama faz você subir, mas quando você é esquecido no topo, é fácil perder a cabeça. Funciona.
Intro de “4 minutes”, mas é apenas um flerte, a próxima música é “Vogue”. Rostos cobertos com renda, fragmentos, sobrepostos aos toques de “tic-tac” sob a melodia – house – hip hop - , nos faz lembrar que o hit hedonista, celebra a liberdade de ser quem você é, já tem 18 anos. A coreografia street e o visual andrógino não lembram quase nada o glamour dos velhos tempos, aqui a mensagem é: “o tempo esta passando e você precisa trabalhar seu corpo, veja a beleza em fragmentos e continue acreditando em você mesmo”.
Madonna desaparece e um ringue de luta livre traz dois dançarinos em ação. No telão lá esta ela, lutando contra si mesma. As imagens são lindas e “Die Another Day” é o prelúdio do bloco mais festejado do show. O bloco Anos 80.
Nos telões imagens dos desenhos do artista gráfico Keith Haring (que foi amigo de Madonna, e faleceu em 1990 vítima da Aids). Precursor da “arte grafite”, seu trabalho faz um excelente pano de fundo aos “early years” de Madonna em NYC. Estamos dançando “Into the Groove”, quem vem com roupagem nova. A versão cantada no show contém samplers de um remix da música “Toop Toop” do Cassius. O figurino é colorido, Madonna divertida pula corda, dança e evoca a galera, até cair no chão exausta, enquanto barulhos de um coração pulsando ecoam pelo Morumbi. É “Heartbeat”, na mesma versão do álbum. No telão imagens de eletrocardiogramas são exibidas, a cantora desce até o chão onde deita e simula uma masturbação bem contida. Ela volta a empunhar sua guitarra e canta “Bordeline”, o estádio em coro canta junto. A nova versão rocker é pegajosa.
Começa “She’s not me”, com uma irada Madonna tirando satisfação com as bailarinas que surgem como clones dela mesma. No final a cantora beija uma delas e o público adora. Acordes de “Last night a Dj saved my life” emocionam o público. Com samplers de “Put your hands for a Detroid”, a sensacional “Music”, esta de roupa nova. Nos telões imagens de grafites e um trem que traz os bailarinos de volta, todos dançam enlouquecidamente. O trem volta e os leva de volta.
Samplers de “Rain” sobrepostos ao hit da banda “Eurythmics”, “Here Comes The Rain Again”, no telão um ser é criado e vai morar num jardim e encanta-se com a natureza. Dançarinos com uma vestimenta japonesa dançam de forma robótica numa coreografia hipnótica. Vai ficar sensacional no DVD oficial.
Bloco Gypsy
As luzes do palco se apagam. Na ponta da passarela os telões em formato cilíndrico encobrem a cantora. “Devil Wouldn’t Recognize You”, Madonna canta sofrida e o clima é soturno e as imagens gráficas de chuva são um deleite visual. Segue “Spanish Lesson”, a boa coreografia e as imagens gráficas do telão, não são capazes de animar, a pior canção gravada pela artista em anos, mas Madonna doa-se ao máximo. Segue “Miles Away” e o público celebra. “La isla Bonita” que é outro ponto alto para os não - fãs, a versão requentada do Live Earth, anima, as imagens de mosaicos são bonitas e todos adoram “saber cantar a letra”. “Doli Doli Doli” e fomos comprar um milho, mas chegamos a tempo de ver Madonna emocionada cantando a bela “You must love me”, clima ternurinha no ar.
Segue o vídeo de “Get Stupid”, muito parecido com o vídeo de “Sorry” da Confessions Tour. È o momento politizado, e assim como Bono Vox a mega star, peca por excessos e por chover no molhado. Mas ninguém se importa, as imagens são boas e a música também. Koyanisqtsi remix é tudo.
Bloco Rave
Madonna segue num figurino horrendo, porém com uma franjinha que já é tendência no mundo da Moda. Blocos movimentam-se pelo palco e Justin Timberlake parece dançar ao vivo com a diva. Curioso é que o estádio não vem a baixo com “4 minutes”. Mas eis, que surgem letras hebraicas com frases cabalísticas e sim, é “Like a Prayer”, com remix inédito ao vivo e a cartase é geral. “Ray Of Light” é executada como na Confessions Tour e o público estende a emoção. Ela dá uma pausa e conversa com o público, baba ovo por São Paulo e canta “Like a Virgin” a capela e manda ver “Hung Up” numa versão nervuda e rocker. Muita gente reclama, nós do iPod aprovamos. Chega “Give It 2 Me”, Madonna com óculos oitentinha e imagens de vídeo game antigo no telão, ela e sua trupe dançam até a exaustão. Até que vemos abruptamente a inscrição: “Game Over” no telão.
Ela agradece quase que tímida e as luzes do Morumbi se acendem. Toca “Holiday”, e estamos todos com os olhos umedecidos. Sim, é verdade o maior espetáculo da terra acabou de acontecer na nossa frente.
Como num filme Madonna e sua Tour “mais família”, mostra que ela é doce e dura, que gosta de dançar, que não vai parar por críticas azedas de pixadores desconhecidos, mas que sente o tempo passar e que mesmo assim ela continua “sendo”. E que sim – A década de 80 foram os anos mais importantes de sua carreira e foi onde tudo começou: a dança, a construção da sua imagem e suas transmutações e que se sente ligada ao mundo fora das fronteiras de seu reinado e por fim tenta nos alertar que é preciso antes de tudo: dançar, cantar, criar e criticar, mas sem perder a lucratividade.
Pra quem te conhece esse texto veio com voz, emoção, com seu rosto nele.
ResponderExcluirNão vi ninguém escrever melhor sobre a Diva.
Me emocionei... agora qdo eu chegar aí, vc me conta tin tin por tin tin...hahahahaha
Beijões
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ResponderExcluirAssisti o show no Rio, gostaria de ter sentido o vibe de SP. Isso é audiovisual roots, ótima análise.
ResponderExcluirSimplesmente a mais perfeita análise sobre o Show da maior cantora do planeta. Durante o show eu pensava .... Nossa alguns viram Elvis, outros viram Beatles e eu estou vendo alguém ainda maior que eles: Madonna. Pq mesmo depois de 25 anos, ela continua "sendo"!
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