Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland)
Dir. Tim Burton
Tim Burton nunca nos decepcionou. Um dos diretores mais criativos dos últimos anos embraçou uma das obras mais criativas e inventivas de todos os tempos, um projeto que parecia ter nascido para ele, a esperar de um diretor como Burton para levar às telas: Alice no País das Maravilhas. E sim, Burton realmente abraçou o projeto e novamente o tornou pessoal, mergulhando a história de Alice no mundo maravilhoso do diretor. Esse mundo maravilhoso que já vimos várias vezes (e gostamos): cenários sombrios, trilha de Danny Elfman, excentricidades, Johnny Depp e Helena Bonham Carter.
A releitura de Alice começa no argumento: alguns anos depois de ter visitado o país das maravilhas, Alice ainda tem pesadelos com o lugar e acha que foi tudo um sonho, não lembrando de nada realmente. Ao ser pedida em casamento contra a vontade em frente aos bem nascidos da Londres vitoriana, a menina (Mia Wasikowska, ótima) abandona a cena e avista um coelho branco vestido com colete e o segue até cair dentro de um buraco. De volta ao Mundo Subterrâneo, todos a esperam como uma guerreira para acabar de vez com a Rainha de Copas (Helena Bonham Carter) que continua a cortar cabeças. Junto com todos personagens já conhecidos, como o gato de Cheshire, a lebre de março, a sábia lagarta e o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp), que agora ganha mais destaque e vira personagem principal; e a Rainha Branca (Anne Hathaway, típica princesa Disney), que espera voltar ao poder. Mas Alice não sabe se é essa guerreira, nem a pessoa certa para encerrar de vez por todas a batalha entre o bem e o mal.
A cada imagem divulgada do filme, a expectativa pelo filme só aumentava: as artes conceituais do Chapeleiro (mais uma vez Depp como um personagem exótico de Burton) e da Rainha de Copas eram visualmente incríveis. E é exatamente isso o que o filme é: visualmente maravilhoso. A licença poética de Burton deixa a história pouco interessante e pessoal demais, mergulhado intensamente no universo do diretor que já conhecemos (Sweeney Todd é um exemplo forte de repetição criativa), parecendo até mesmo pré-fabricado, os ingredientes para o mundo do cineasta já estão prontos – uma encomenda da Disney para criação de produtos derivados da história. Algumas coisas são tão fora de contexto, como o final enfadonho de Alice e uma batalha épica no final (Alice no Senhor dos Anéis?), que não se identifica com o universo criado por Lewis Carroll, conflito de dois gênios? A fórmula funcionou perfeitamente com Fábrica de Chocolate, dessa vez Tim Burton quis recontar a história de Alice, torná-la mais pessoal, o que foi um deslize. Numa das melhores cenas do filme, é contado um flashback da primeira visita de Alice ainda criança, o que nos dá um gostinho de curiosidade e torcida por um prelúdio com a história original, que flerta também com diálogos retirados diretamente do livro de 1865.
A técnica 3D também não empolga (personagens apontando para a platéia e objetos sendo jogados na nossa direção), tanto que o filme pode funcionar perfeitamente em película (diferente de Avatar). Chato afirmar que é mais um filme genérico de Burton: visuais incríveis, atuações afetadas e exageradas (até mesmo dos personagens digitais) e Johnny Depp espetacular. A famosa animação de 1951 (também da Disney) ainda continua a melhor: simples, curta, charmosa e viajante na medida certa!