Um homem Sério (A Serious Man, 2009)
Dir: Joel & Ethan Coen
"Quando a verdade se revela mentira, toda alegria interior se vai"
Para ler ouvindo:

O filme permeia a idéia de que é mais difícil acompanhar nessa história sobre um homem sério, é assistir as disfunções diárias e as experiências nada justas que o protagonista vivencia. Ao invés de uma explicita narração de fatos descritivos, opta-se por uma subjetiva apresentação de ações que geram conseqüências que fogem o físico, mas o moral. Nosso homem e um caleidoscópio, de diversas experiências desagradáveis, exclusivas e difíceis de serem explicadas, talvez apenas sentidas, por isso a relativação é necessária para que se possa viajar junto com o personagem em seu inferno pessoal.
Buscando encontrar sentido mesmo para suas dúvidas existenciais (em certo instante, ele sonha com uma imensa equação que explicaria a incerteza do universo), ambiciona principalmente ser considerado um “homem sério” por seus pares, o que torna seu “rival” Sy Ableman (reparem o sobrenome) ainda mais irritante em função de sua postura de superioridade, sua enunciação impecável e cuidadosa e, claro, seu status diante da comunidade.
Trocando em miúdos, “Um Homem Sério”, é um retrato de um homem em apuros, que apesar de ser judeu, parece não depositar nenhuma confiança em suas crenças, pois sua procura por respostas com os rabinos são inusitados e inúteis. Aliás, um dos rabinos pode ser o símbolo do filme: Marshak só aparece em duas cenas, mas o seu diálogo com Danny Gopnik (filho do Larry) após seu bar mitzvah é a prova da originalidade do filme. Marshak fala lentamente o que pareciam palavras de sabedoria, quando na verdade são apenas umas linhas da música Somebody To Love (Jefferson Airplane).
Em uma das passagens um dos rabinos diz: “Vamos dar um passo atrás para entender a situação”. A vida pode apresentar situações que mostre como tudo que você pensa ser de uma maneira, acontece de outra. E não existe uma teoria fácil pra explicar isso. “É preciso, como judeu, explicar as coisas que não entendemos desenhando, ou usamos algum processo como escrever uma carta”. Apoiado nessa afirmação de uma personagem secundaria, os próprios diretores se utilizam de uma sucessão de imagens recheadas de sensação e economizam no texto, para transcorrer a história.

Cada vez mais seguros na direção, cada plano do filme tem um significado contido, casa close, cada movimento de câmera tem um propósito. Existe em sua estrutura um rigor estilístico poucas vezes tão bem apoiado a função de narrar o filme. A trilha sonora e as repetições usadas são mais um tempero, para essa triste e sarcástica história que tem como explicação a “aceitação do mistério” e as chances que temos com os demais personagens da nossa vida são: se estiver desesperado, as pessoas vão minimizar seu problema, caso demonstre, elas vão criar um drama que provavelmente você vai se sentir humilhado. E quanto o vislumbre de se apoiar em Deus, nunca nem os personagens do filme, nem os espectadores dessa tragicomédia vão saber se existe de fato essa possibilidade, ao que tudo indica para os diretores, seu anti-herói é como o gato da teoria que ele tenta explicar para seus alunos no começo do filme. Estamos meio mortos e meio vivos e, sobretudo com a certeza de contar com algo superior é certo, ou não.